Obras do Autor em seu Sexagenário de Vida:
1 – Coleção Vermelha
2 – Coleção Azul
3 – Coleção Verde
COLEÇÃO AZUL:
I – QUESTÃO ENCANTADA – Poemas
(1975 – 1984)
II – SOBRAS – Poemas (1976 –
1984)
III – KANTOS – Poemas (1985
– 1995)
IV – POETAR – Poemas (1996 –
1999)
OBSERVATÓRIO
(PROSAS EM VERSOS)
TEMPORADA 2012/1:
Evolução Seletiva
Pensei ter visto uma garça branca
Passar por minha janela no
6º andar
Mas não, era uma sacola de
plástico
Que passou batendo alças no
vento
Buscando seu viveiro de lixo
seletivo
Para fugir do venenoso
chorume do lixão.
02/jan/2012
O CALDEIRÃO DA BRUXA
O cérebro é um permanente
caldeirão
Fervilhando pensamentos
inconscientes
Que emergem aleatoriamente
na consciência
Como um sopão de palavras e
frases alucinadas
Na mente, coitada, que
almeja a lucidez das fadas.
10/01/2012
O VÍCIO DE PENSAR
É preciso prestar atenção
Mais no que sem pensar se
pensa
Do que no que se fala ou faz
Posto que se pensa o tempo
todo
Muito mais do que se faz e
fala
Pois, pensando bem, o vago
pensar
É um entretenimento pra vida
passar
Incólume, sem nela fundo se
meditar
Pensar é viciante como a TV
e o crack
E têm o mesmo efeito
colateral
É preciso acabar com o vício
de pensar!
17/01/2012
CÃES QUE LADRAM
Um debate político
É como uma briga de cães
Ferozes pelo osso do poder
Osso que daria uma boa sopa
Para todos os animais da
floresta
Se não fossem os cães
famintos
De poder para ladrar...os
cães ladrões.
17/01/2012
ABDUZIDOS
O unicórnio azul todo mundo
sabe
É pena, mas não existe de
fato
E assim, com palavras
concretas
Descrevemos o abstrato
imaginário
Tanto, que lá pelas tantas,
nos perdemos
Misturando nossas ilusões
com a realidade
Em credos rivais e partidos
de crentes
Em raças e civilizações concorrentes
Até, por fim, sermos
abduzidos.
25/01/2012
CONDOR NA VELHICITE
No limiar do portal dos
sexagenários
A dificuldade maior é
conviver com a dor
Não mais a do peso do mundo
nos ombros
(Que é, conforme o Drummond,
uma mão de criança)
E sim suportar a dor crônica
da velhice
Às vésperas dos medicamentos
de uso contínuo
(Para bursites, tendinites,
artrites e outras “velhicites”)
Que marca o início do
definitivo vôo do condor
Do alto da imponente
cordilheira Ígnea e metamórfica
Para o raso da planície
sedimentar da decrepitude.
12/02/2012
CUIDADO QUE MOLHA!
Como todo líquido molha
E toda lágrima de dor é
líquida
Cuidado que dor molha!
Como cabeça cheia e quente
É oficina do diabo a
derreter tudo
Cuidado que sofrer inunda
Como um tsunami a vida da
gente!
17/02/2012
Golfinhos Rotadores
Os golfinhos machos se
revezam
Para enfrentar os barcos dos
turistas
E, na folga, podem namorar e
descansar
E vários fazem cópulas
sucessivas com a fêmea
De forma que ninguém sabe
quem é pai de quem
Logo todos os machos são
responsáveis pelos filhotes
Como o prescrito na
filosófica República de Platão.
17/11/2014 (refeito)
O NEGRO GATO FÉLIX
Chegou como um negrinho
ranhento de rua
Acuado na grade do jardim da
entrada do prédio
Talvez achando que não havia
mais remédio
Pra sina de abandono de quem
é gato preto
Ao ver de vez suas sete
vidas ameaçadas
Com suas grandes orelhas
pontudas oriçadas
E seus arregalados olhos
amarelos assustados
Parecia não estar entendo
direito o seu destino:
- Em que corpo e em que
mundo foi nascer?
Qual nada, foi acolhido de
imediato no peito
Início do cerimonial grupal
pra um nome receber
E, já como Félix, se
apropriou do pequeno território
No apartamento de uma
família do terceiro andar
Com janelas pra mirar de
longe a rua de onde veio
Vista agora, com seus
perigos, de um mirante seguro.
Porém gato também não quer
só casa e comida
Quer dormir, diversão, fazer
arte, carinho e sexo
Nem que, pra isso, tenha que
voar pela janela...
Mas como gato não voa, só
enxerga invisíveis voadores
Foi preciso castrar-lhe as excitadas asas suicidas
E tornar o Félix um sereno
meditante monge budista.
Contudo, seguiu sem resistir
à tentação da carne crua
Pela qual Félix era yogui:
ficava de pé em duas patas
E seguiu sem abrir mão do
carinhoso jogo de sedução
Com sua virgem gata
Pitchuca, aos “amassos e lambeção”.
Dizer que só faltava falar,
é preconceituoso
Pois que de fato o negro
Félix falava tudo
Só não com a voz em falsete
da dublagem
Com que traduzíamos seus
significantes miados
Como ventrículos oralizando
os seus pedidos.
Depois da fase de subir
pelos armários de parede
E de fazer de bola a então
“tartaruguinha” Rafaela
O Negro Gato Félix foi
envelhecendo sobre o sofá
Nos observando no entra e
sai de todos os dias
Como que criticando a insana
correria humana
Até, idoso e doente, buscar
reclusão debaixo da cama
Pra regurgitar a vida com os
seus bigodes brancos
E ir morrer, quem diria gato
de rua, numa clínica chic
Nos ensinando a elaborar o
luto por um ser da família
E a conviver com a sua
ausência em silenciosas
lembranças.
09/março/2012
lembranças.
09/março/2012
A Mulher do Poeta
Estás com a cabeça nas nuvens?
Aterrissa, sacode as estrelas
Deste pano de prato e vem
Secar as montanhas de louças
Que lavei na cachoeira da
pia.
22/05/2012
O MITO DA CAVERNA
Não sou eu que penso
Meus pensamentos
efervescentes
É que me pensam
E me cansam de tentar
escapar
Somos ficções de nossas
mentes
Cativos na caverna de Platão
No mundo criado pelo nosso
olhar.
24/05/2012
O FOGO DA FOME
A fome é fogo
É feita uma tocha
Ardendo na barriga
Flambando a esperança
Incinerando a paciência
Incendiando a vingança
E fervendo a violência.
24/05/2012
MILAGRE DO AMADURECIMENTO
Mesmo como natureza morta
uma fruta verde qualquer
amadurece longe do pé
pra servir, antes de
apodrecer.
26/05/2012
O GRANDE E O PEQUENO SONHO
Confesso que tenho chorado
Toda vez que volto ao canto
operário
“As Uvas e o Vento” do Neruda
Livro de poemas panfletários
Em que o poeta glorifica com
arte
O Partido Comunista, Mao e
Stálin
Menos pela beleza das
metáforas dos versos
E mais pela grandeza do
sonho socialista perverso
Que inspirou uma geração de
artistas consagrados
Do arquiteto Niemayer ao
escritor Jorge Amado
Na crença que iam resolver
as dores do mundo.
Choro por perceber a
mesquinhez do meu sonho
E da minha decepção com o
Partido dos Trabalhadores
E por eu ser interesseiro,
apenas pelo povo brasileiro.
Grandes sonhos universais:
decepções colossais!
24/05/2012
ASSEMBLÉIA GERAL
Levante o braço
Quem é a favor
Da realidade nua e crua
Tal e qual ela é!...
Ninguém?
Nem eu.
E quem é contra?...
Todos, sem abstenções?...
Eu também.
Mas protestar pra quem?!
02/06/2012
ARTESÃO DE POEMAS
Desde a mais teen idade
pratico
Talvez por vício adquirido
ou hábito
Provocado pelo intenso uso
continuado
Ou por ter me socorrido em
muletas
Pra decifrar as garatujas
dos adultos
Talvez por pseudo ideologia
militante
De quem quer fazer mas não
prosa
Talvez pra povoar a solidão
sozinho
Colhendo depoimentos de si
próprio
Pra discernir os vultos que
a vista
No escuro tanto amedrontam a
visão
E assim ser meu
(auto)psicanalista
Com integral dedicação ao
(im)paciente
Desde a mais teen idade
pratico
Como quem faz prosa em
versos
Garimpando em vão raros
minérios
Pra na bateia do poema
captar a poesia
E desvendar por magia os
mistérios
Da vida ardendo no cotidiano
Ferida de morte com rima
rica
E revelar a alegria da
beleza escondida
Desde a mais teen idade
pratico
O artesanato de escrever
poemas
A duras penas.
04/06/2012
AULAS MATINAIS DE LETRAS
Quando o dia desperta
Por trás dos morros de
Viamão
Com a intensa luminosidade
De um quadro de Dali
Quando o sol tira
A cabeça pra fora
Da coberta do horizonte
Abrindo as cortinas de
nuvens
Do final deste seco outono
Eu entro no Campus da UFRGS
E gasto a manhã
tentando aprender algo
Não sei o quê e nem pra quê
saber...
15/06/2012
SECA NO SUL
À Neusa Rocha
Tenho até medo
De olhar pro céu
E ver estrelas:
Vem chuvinha!...
Cai chuvinha!...
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16/06/2012
POETAR XV
Fazer poemas, poetar
É recolher a poesia
Catada no dia-a-dia
Como flores do caminho
Ou pedras de tropeçar.
16/06/2012
PORTEIRA ABERTA
Todo voo que baixa rasante
Por trás da estátua do
laçador
Entrando no poncho de Porto Alegre
Traz modismos de
estranho valor
E pousa ileso do laço do
gaúcho
Que a pé, não laça mais nada
Vendo o pampa entregue aos
javalis
Estático no pedestal de
atração turística.
14/07/2012
JUVENTUDES EXTRAVIADAS
A pacata solidão juvenil do meu filho
Eu sofro com ele, por ele e mais do que ele
Nela revivo a solidão da minha juventude
Sem namoradas, sem beijos e sem sexo
E sei que esta carência prolongada
Provoca áridos bloqueios afetivos no peito
Por não ter sido regado pelo sereno do amor
Do solitário peito de emoções enclausuradas
Não saem as palavras e gestos espontâneos
Que possam semear conquistas amorosas
Passivos, torcemos pelas forças do destino
Para que haja uma conspiração cósmica
Que nos realize o encontro com a bem amada
Como diz Neruda:
“Que solidão errante até tua companhia!”
Aquela que fará fluir nossa afetividade represada.
07/01/2012
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