Obras do Autor em seu
Sexagenário de Vida:
1 – Coleção Vermelha
2- Coleção Azul
3 – Coleção Verde
OBSERVATÓRIO
(PROSAS EM VERSOS)
TEMPORADA 2014:
RÉQUIEM DE JOSÉ ROLIM
Não houve como escapar
Da disposição do Mapa Astral
Contida no céu da Revolução
Solar
Prevendo grande perda fatal.
Surpreendente arranjo de males
Da mente, do corpo e da alma
Inesperadamente se aglutinaram
Embaralhando a visão e a locomoção
Sobretudo a compreensão de ser e estar
E rapidamente como patologias
desmoronaram
Com a frágil estrutura da dignidade
fisiológica
De um evoluído ser extremamente comedido
Que partiu silenciosamente, sem alarido.
Com o desígnio de não incomodar
aos vivos
Morreu demasiadamente humano no
SUS
Para ocupar no imaginário o mito
paterno
Mantendo a sua rede de sinceros afetos
E ser eternamente o papito e o vozito
Totem de ternos ensinamentos do viver e
morrer
Com a resignação de se cumprir o destino
Anunciado pelo concílio conspiratório
divino
Dos
astros em revolução solar no Mapa Astral.
10/01/2014
O ENCAIXE
Na tem mais remédio
Nesta vida que já finda
Sem tédio, não vim para
brilhar
Nasci pra ficar na nuvem
Como um obscuro ponto
Um pouco acima da média
Vim para me resignar
A ser um ser comum
E o silêncio apreender
Pra encaixar o meu existir
Ao ritual de se despedir
Agora, doravante sem
escrever.
18/05/2014
ARCO-ÍRIS ESFEROGRÁFICO
Como que espalitando os
dentes
Passei a vida esferografando
poemas
De entre as fibras e os
neurônios
Nas cores fortes das canetas
BIC
Em azul, preto, verde e
vermelho
Cores agora reunidas no pote
mágico
Que eleva o arco-íris do
Windows XP ao Seven
Com cartuchos de tintas a
preço de ouro
Enquanto a velha, boa e
barata esferográfica
Continua sendo uma amiga
sempre ao lado
Para inspirações às altas
horas
e para quedas no sistema
Mas e quando no futuro
houver teclados
para tudo e para todos
Num tempo em que aprender o
manuscrito
não servirá pra mais nada?
Será o fim da Era do
Arco-íris Esferográfico,
da nossa Era que já era?!...
09/08/2014
VERSO SUJO
Esquecido no bolso das
calças
O verso feito na poeira das
ruas
Leva poesia aos lençóis e
fronhas
Misturados na tulha de
roupas sujas.
11/08/2014
DÍZIMO DO SINAL FECHADO
O cara no sinal entra de
sola
Pedindo esmola com a mão
Como que exigindo um direito
seu
Eu dou como uma obrigação
Pela dor de culpa no peito
meu.
11/08/2014
MUNDO ASSUSTADOR
Desde a brisa da Primavera
Árabe
Que soprava ares de
liberdades
Guerras santas, políticas e
tribais
Tomaram o mundo de velhas
insanidades
Numa pandemia de ódios
raciais
Tomara que fosse a febre
expulsando a doença
Da loucura crônica dos
organismos sociais
Ao invés dos homens matando
a esperança
De paz entre os desiguais...
11/08/2014
Réu Confesso
Sou acusado
De ser o alter ego
De mim mesmo
Dizem que escrevo
Plágios do que penso
Legendas do que digo
E psicografias do que sinto
Sou acusado
De escrever autoajuda
Em benefício próprio do
autor
Deste crime sou réu confesso
E condenado a não ser
escritor
E muito menos poeta
A ser mero artesão de texto
e verso.
13/09/2014
Às brincas
Como brigo brincando
Na bri(n)g(c)adeira
Eu choro me rindo
Mas sofro às ganha.
16/09/2014
Rebu
Não quero saber
Quem fez o quê
Com quem
Eu quero é fazer
Também.
21/09/2014
O Lobo da Estepe Velho
A lua cheia na janela
Fez eu uivar para ela
Como um velho lobo da estepe
Ainda no teatro mágico da
vida
Feito só para loucos
suicidas
Ao preço da perda da razão
E do sarcástico riso
solitário.
09/10/2014
BELCHIONA
De tudo o que jovens fomos
Intensos, íntegros e imersos
Que seres nos tornamos
Fechados, frágeis e falsos
Para no fim envelhecermos
Tranquilos, triviais e
tristes?
Perdeu, playboy!
23/10/2014
ASTROLOGISMO
Elas não são iguais
Mas astrologicamente
Têm o mesmo DNA
Nasceram no mesmo dia
Na mesma hora e cidade
E não são irmãs gêmeas
Há anos se encontraram
E ficaram enamoradas, até
ontem
Será que o mapa astral, por
acaso
Revela se é este o final do
caso?
25/10/2014
ANALFABETISMOS
Eu, analfabeto de ler e
escrever
Diante de uma partitura
musical
Fico imaginando como seria
viver
Sem saber ler sequer um
jornal.
03/11/2014
Pretérito do Futuro
No futuro eu gostaria
De continuar querendo
Ter sido quem fui e sou
Pro futuro do futuro em
queria
Querer continuar sendo
O ser que a vida me tornou
Mas eu já não apostaria
Pois já não estou podendo
Gostar de quem hoje já sou
07/11/2014
O Fazedor de Silêncios em Barros
Manoel de Barros ouviu os
passos
De Manuel Bandeira pra lhe
abrir a porta
Mas timidamente fugiu do
famoso portal
Foi colher sua poesia no
silêncio do pantanal.
E eu, fazedor de versos há
mais de 40 anos
Todos dialéticos com o meu
umbigo
No burburinho barulhento de
uma capital
Só hoje ouço o teu poético
coaxo, Barros
Quando o tarrafeio na tela
da rede universal
Por ocasião do anúncio
pomposo de tua morte
Onde ecoas, como Drummond,
poeta nacional
Um fazedor de silêncios de
seus barros pessoais.
Por onde errei que,
Insignificante, nem o encontrei
Antes de silenciares no
amanhecer dos imortais
Como fazedor de arte das
insignificâncias humanas?
16/11/2014
Lua de Diamante
Se o romântico brilho da lua
Fosse de pedras de diamantes
A corrida pela conquista do
espaço
Teria trânsito intenso de
caravelas
Para a exploração destrutiva
do satélite natural
(Como fizeram no Novo Mundo
da América)
A lua seria uma Serra Pelada
espacial
Onde robôs garimpariam a luz
da noite
Até eternizarem a escuridão
noturna
(E o desequilíbrio ecológico
no Sistema Solar)
Por sorte, as pedras opacas
da lua
Não atraíram mais nenhum
astronauta
E pudemos seguir romantizando
a luz do luar.
23/11/2014
De Mãos Dadas
Ver meninas ou mulheres
de mãos dadas era comum
Nem colocávamos maldade
se eram amigas ou namoradas
Mas anteontem vi dois homens
Adultos e peludos de mão
dadas na rua
É sabido que a República do
nosso Sistema Mental
Faz racionalizações
econômicas no campo afetivo e moral
E cria bolsões de
pensamentos inadimplentes
Na periferia dos dias da
gente
Enquanto o cérebro centrado
Estuda, trabalha, faz
carreira
E consiste família
tradicional
Com mulher, filhos e tralha
e tal
Com gato, cão e tartaruga
Os pensamentos marginais
Baderneiam o caos da paz
tatuada
Se fazem rebeldes e também
querem
Revolucionar os costumes no
século 21
Pra não serem iguais a nós,
seus pais
Que não chegamos a ser
grandes coisas
E acabamos sendo iguais aos
avós deles
Mesmo com a loucura hippie
do século passado
Do feminismo chegamos aqui
ao sexismo dos gêneros
Da bandeira de “Paz, amor e
Liberdade”
Querem a liberdade de
andarem de mãos dadas
Trocando carinhos e afetos
em público
Em igualdade como todos os
casais
Sejam eles compostos por
dois homens ou mulheres
Misturados harmoniosamente
aos pares heterossexuais
Nos shoppings, nas ruas, nos
condomínios e nos bares.
Ontem vi passar dois homens
jovens de mão dadas
Casais que tenho visto cada
vez com maior frequência
Parece que, finalmente,
abriram-se as portas dos armários
Para que ocupem o espaço
público democrático
Com igual direito que têm
todos os cidadãos
Da cidade, do campo, do país
e do mundo.
Hoje vi dois casais
homossexuais de mãos dadas no parque
Estranhamos, nos sentimos
incomodados em nossos preconceitos
Mas, como todo movimento de
conscientização de novos paradigmas
Dói, leva algum tempo em
badernas de enfrentamentos radicais
E quando menos se espera a
revolução de costumes estará feita
Suprimindo a invisibilidade
social imposta de ser oculta no armário
Então, em qualquer festa que
se vá
Já se poderá dançar Tim
Maia, homem com homem
E também mulher com mulher
Com direito a beijo na boca
e amassos sociais
E à todo o tesão que houver
nesta vida.
A República do Sistema
Mental
É conservadora sim, mas
absorve lentamente
O direito de diversidade das
relações corporais
E vai desfazendo os bolsões
de pensamento inadimplentes
Com a formação de regiões
férteis para expressões homo afetivas
Nas artes, como o sucesso do
primeiro beijo gay masculino na TV
Propiciando que as pessoas
passem a andar de mãos dadas suas estradas
Levemente e sem a repressão
homofóbica agressiva ou silenciosa.
28/11/2014
Curandeiros da dor
O curti(dor)
Curte a dor que sente
Enquanto o goza(dor)
Goza da dor ausente
Por isso um é poetista
E o outro humorista
Já o escrevinha(dor)
Interpreta à ambos como
atores
Mas todos eles são
cura(dores)
De quem é realmente sofre(dor).
26/12/2014
Nico simplesmente bom
A vida que nos assusta
Não é mais a por ser vivida
Desta já conhecemos os
meandros
E sim a vida morrida
Da qual nenhum malandro
Suas memórias póstumas
esquecidas
Nos envia do seu mergulho
sem escafandro
A vida que nos assusta
É a da morte, que rodeia o
nosso círculo
De idosos de uma família
grande
Para levar um por um pela
mão: Valeu Nico!
E mostrar aos vivos como o
escolhido foi bom
Em sua simplicidade e
pequenas grandezas
Pra que uns nos outros
prestem mais atenção!
29/12/2014