segunda-feira, 28 de setembro de 2015

TEMPORADA 2014

Obras do Autor em seu Sexagenário de Vida:
1 – Coleção Vermelha
2- Coleção Azul
3 – Coleção Verde
OBSERVATÓRIO
(PROSAS EM VERSOS)

TEMPORADA 2014:

RÉQUIEM DE JOSÉ ROLIM

Não houve como escapar
Da disposição do Mapa Astral
Contida no céu da Revolução Solar
Prevendo grande perda fatal.
      Surpreendente arranjo de males
      Da mente, do corpo e da alma
      Inesperadamente se aglutinaram
      Embaralhando a visão e a locomoção
      Sobretudo a compreensão de ser e estar
      E rapidamente como patologias desmoronaram
     Com a frágil estrutura da dignidade fisiológica
     De um evoluído ser extremamente comedido
     Que partiu silenciosamente, sem alarido.
             Com o desígnio de não incomodar aos vivos
             Morreu demasiadamente humano no SUS
             Para ocupar no imaginário o mito paterno
            Mantendo a sua rede de sinceros afetos
      E ser eternamente o papito e o vozito
      Totem de ternos ensinamentos do viver e morrer
      Com a resignação de se cumprir o destino
      Anunciado pelo concílio conspiratório divino
      Dos astros em revolução solar no Mapa Astral.
10/01/2014

O ENCAIXE
Na tem mais remédio
Nesta  vida que já finda
Sem tédio, não vim para brilhar
Nasci pra ficar na nuvem
Como um obscuro ponto
Um pouco acima da média
Vim para me resignar
A ser um ser comum
E o silêncio apreender
Pra encaixar o meu existir
Ao ritual de se despedir
Agora, doravante sem escrever.
18/05/2014

ARCO-ÍRIS ESFEROGRÁFICO

Como que espalitando os dentes
Passei a vida esferografando poemas
De entre as fibras e os neurônios
Nas cores fortes das canetas BIC
Em azul, preto, verde e vermelho
Cores agora reunidas no pote mágico
Que eleva o arco-íris do Windows XP ao Seven
Com cartuchos de tintas a preço de ouro
Enquanto a velha, boa e barata esferográfica
Continua sendo uma amiga sempre ao lado
Para inspirações às altas horas
e para quedas no sistema
Mas e quando no futuro houver teclados
para tudo e para todos
Num tempo em que aprender o manuscrito
não servirá pra mais nada?
Será o fim da Era do Arco-íris Esferográfico,
da nossa Era que já era?!...  
                                         09/08/2014                                                        
 VERSO SUJO

Esquecido no bolso das calças
O verso feito na poeira das ruas
Leva poesia aos lençóis e fronhas
Misturados na tulha de roupas sujas.
                                                             11/08/2014

DÍZIMO DO SINAL FECHADO

O cara no sinal entra de sola
Pedindo esmola com a mão
Como que exigindo um direito seu
Eu dou como uma obrigação
Pela dor de culpa no peito meu.
                                                          11/08/2014
  
MUNDO ASSUSTADOR

Desde a brisa da Primavera Árabe
Que soprava ares de liberdades
Guerras santas, políticas e tribais
Tomaram o mundo de velhas insanidades
Numa pandemia de ódios raciais
Tomara que fosse a febre expulsando a doença
Da loucura crônica dos organismos sociais
Ao invés dos homens matando a esperança
De paz entre os desiguais...
                                                           11/08/2014
Réu Confesso

Sou acusado
De ser o alter ego
De mim mesmo
Dizem que escrevo
Plágios do que penso
Legendas do que digo
E psicografias do que sinto
Sou acusado
De escrever autoajuda
Em benefício próprio do autor
Deste crime sou réu confesso
E condenado a não ser escritor
E muito menos poeta
A ser mero artesão de texto e verso.
13/09/2014
Às brincas
Como brigo brincando
Na bri(n)g(c)adeira
Eu choro me rindo
Mas sofro às ganha.
                                         16/09/2014
Rebu

Não quero saber
Quem fez o quê
Com quem
Eu quero é fazer
Também.
21/09/2014

O Lobo da Estepe Velho

A lua cheia na janela
Fez eu uivar para ela
Como um velho lobo da estepe
Ainda no teatro mágico da vida
Feito só para loucos suicidas
Ao preço da perda da razão
E do sarcástico riso solitário.
09/10/2014

BELCHIONA

De tudo o que jovens fomos
Intensos, íntegros e imersos
Que seres nos tornamos
Fechados, frágeis e falsos
Para no fim envelhecermos
Tranquilos, triviais e tristes?
Perdeu, playboy!
23/10/2014

 ASTROLOGISMO

Elas não são iguais
Mas astrologicamente
Têm o mesmo DNA
Nasceram no mesmo dia
Na mesma hora e cidade
E não são irmãs gêmeas
Há anos se encontraram
E ficaram enamoradas, até ontem
Será que o mapa astral, por acaso
Revela se é este o final do caso?
25/10/2014

ANALFABETISMOS

Eu, analfabeto de ler e escrever
Diante de uma partitura musical
Fico imaginando como seria viver
Sem saber ler sequer um jornal.
03/11/2014

Pretérito do Futuro

No futuro eu gostaria
De continuar querendo
Ter sido quem fui e sou
Pro futuro do futuro em queria
Querer continuar sendo
O ser que a vida me tornou
Mas eu já não apostaria
Pois já não estou podendo
Gostar de quem hoje já sou
07/11/2014
  
O Fazedor de Silêncios em Barros

Manoel de Barros ouviu os passos
De Manuel Bandeira pra lhe abrir a porta
Mas timidamente fugiu do famoso portal
Foi colher sua poesia no silêncio do pantanal.
E eu, fazedor de versos há mais de 40 anos
Todos dialéticos com o meu umbigo
No burburinho barulhento de uma capital
Só hoje ouço o teu poético coaxo, Barros
Quando o tarrafeio na tela da rede universal
Por ocasião do anúncio pomposo de tua morte
Onde ecoas, como Drummond, poeta nacional
Um fazedor de silêncios de seus barros pessoais.
Por onde errei que, Insignificante, nem o encontrei
Antes de silenciares no amanhecer dos imortais
Como fazedor de arte das insignificâncias humanas?
16/11/2014

Lua de Diamante

Se o romântico brilho da lua
Fosse de pedras de diamantes
A corrida pela conquista do espaço
Teria trânsito intenso de caravelas
Para a exploração destrutiva do satélite natural
(Como fizeram no Novo Mundo da América)
A lua seria uma Serra Pelada espacial
Onde robôs garimpariam a luz da noite
Até eternizarem a escuridão noturna
(E o desequilíbrio ecológico no Sistema Solar)
Por sorte, as pedras opacas da lua
Não atraíram mais nenhum astronauta
E pudemos seguir romantizando a luz do luar.
23/11/2014

De Mãos Dadas

Ver meninas ou mulheres
de mãos dadas era comum
Nem colocávamos maldade
se eram amigas ou namoradas
Mas anteontem vi dois homens
Adultos e peludos de mão dadas na rua
É sabido que a República do nosso Sistema Mental
Faz racionalizações econômicas no campo afetivo e moral
E cria bolsões de pensamentos inadimplentes
Na periferia dos dias da gente
Enquanto o cérebro centrado
Estuda, trabalha, faz carreira
E consiste família tradicional
Com mulher, filhos e tralha e tal
Com gato, cão e tartaruga
Os pensamentos marginais
Baderneiam o caos da paz tatuada
Se fazem rebeldes e também querem
Revolucionar os costumes no século 21
Pra não serem iguais a nós, seus pais
Que não chegamos a ser grandes coisas
E acabamos sendo iguais aos avós deles
Mesmo com a loucura hippie do século passado
Do feminismo chegamos aqui ao sexismo dos gêneros
Da bandeira de “Paz, amor e Liberdade”
Querem a liberdade de andarem de mãos dadas
Trocando carinhos e afetos em público
Em igualdade como todos os casais
Sejam eles compostos por dois homens ou mulheres
Misturados harmoniosamente aos pares heterossexuais
Nos shoppings, nas ruas, nos condomínios e nos bares.

Ontem vi passar dois homens jovens de mão dadas
Casais que tenho visto cada vez com maior frequência
Parece que, finalmente, abriram-se as portas dos armários
Para que ocupem o espaço público democrático
Com igual direito que têm todos os cidadãos
Da cidade, do campo, do país e do mundo.

Hoje vi dois casais homossexuais de mãos dadas no parque
Estranhamos, nos sentimos incomodados em nossos preconceitos
Mas, como todo movimento de conscientização de novos paradigmas
Dói, leva algum tempo em badernas de enfrentamentos radicais
E quando menos se espera a revolução de costumes estará feita
Suprimindo a invisibilidade social imposta de ser oculta no armário
Então, em qualquer festa que se vá
Já se poderá dançar Tim Maia, homem com homem
E também mulher com mulher
Com direito a beijo na boca e amassos sociais
E à todo o tesão que houver nesta vida.

A República do Sistema Mental
É conservadora sim, mas absorve lentamente
O direito de diversidade das relações corporais
E vai desfazendo os bolsões de pensamento inadimplentes
Com a formação de regiões férteis para expressões homo afetivas
Nas artes, como o sucesso do primeiro beijo gay masculino na TV
Propiciando que as pessoas passem a andar de mãos dadas suas estradas
Levemente e sem a repressão homofóbica agressiva ou silenciosa.
                                                  28/11/2014

Curandeiros da dor

O curti(dor)
Curte a dor que sente
Enquanto o goza(dor)
Goza da dor ausente
Por isso um é poetista
E o outro humorista
Já o escrevinha(dor)
Interpreta à ambos como atores
Mas todos eles são cura(dores)
De quem é realmente sofre(dor).
                                                  26/12/2014

Nico simplesmente bom

A vida que nos assusta
Não é mais a por ser vivida
Desta já conhecemos os meandros
E sim a vida morrida
Da qual nenhum malandro
Suas memórias póstumas esquecidas
Nos envia do seu mergulho sem escafandro
A vida que nos assusta
É a da morte, que rodeia o nosso círculo
De idosos de uma família grande
Para levar um por um pela mão: Valeu Nico!
E mostrar aos vivos como o escolhido foi bom
Em sua simplicidade e pequenas grandezas
Pra que uns nos outros prestem mais atenção!
                                                               29/12/2014

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