TEMPORADA 2013/2:
INSTINTO DE PRESERVAÇÃO
Qualquer um de nós, desde
pequeno
Aprende a distinguir de
ouvido
As sirenes das ambulâncias
Dos bombeiros e das polícias
Para se correr com elas
Ou pra elas ou correr delas.
07/07/2013
INVERNADA
Sem melodrama
Visto meu velho pijama
E me encolho
No quentinho da minha cama
Pra ver a neve...gear
Sem reclamar
Deste frio de encarangar
Que faz aqui no Sul do Mundo
Onde nasci: é o meu lugar!
25/07/2013
CONJUNÇÕES
Tudo ia bem
E a raça humana
Surgiu nas terras africanas
Tudo ia bem
Até o contudo
O porém, o todavia
Surgir no além...
E o homem deixou
De ser um ser errático
Na civilização se aprisionou
Entre os rios Tigre e
Eufrates
Em território asiático
Tudo ia bem
Porém, contudo, todavia
Virou bem mal
Quando se tornou ocidental.
01/08/2013
GOSTADORES
Eu gosto que ela goste
Do que ela gosta
Dá gosto de ver ela gostar
Eu sempre gostei
Do gosto dela assim
Gostando de gostar de mim.
10/08/2013
PENSANDO & ANDANDO
Parei pra pensar
Fiquei com o olhar
Fixo no nada
De quem não vê
O que enxerga
E observa o que não vê
Pois está olhando
Não pra fora
Mas pra dentro de si
E não gostei do que vi
Desde então eu parei
De parar pra pensar.
17/08/2013
FURTADOR
Ninguém se furta
De ser honesto
Pra não fazer feio
Mas quando sem receio
Da dor do vigiar e punir
Todos furtam o alheio.
17/08/2013
SERENÃO
Lá no sertão
Quando a noite
Cai serena
A gente fica sereno
Vendo o sereno cair.
18/08/2013
O TÃN-TÃN DE CADA CLÃ
Cada família tem sua própria
loucura
Que é aceita até com ternura
Como traços genéticos do clã
O problema é a mistura, os
elos
De diferentes famílias, os
casais
Pra quem os estranhos são
belos
E os parentes são tãn-tãns
banais.
07/09/2013
SEM FALA
Eu penso que digo quase tudo
Mas não falo quase nada
O tempo todo fico mudo
Pensando no que dizer...
Sem fala!
09/09/2013
Relógio Automático
O tempo move lento
Os ponteiros do relógio
No pulso enquanto pulsa.
Como um moinho de vento
O movimento pendular do
braço
Dá corda com a vida avulsa
E faz o mecanismo todo
funcionar
Sem pilha nem quartzo a
energizar
O bobo que trabalha de graça.
10/09/2013
PATRIARCALISMO
Instinto de mãe é visceral
É exercer o dom ao pé da
letra
Todos os dias, sem feriados
Já instinto de pai é mais
teatral
É cumprir a missão com treta
Em dias intensos, mas
salteados.
13/09/2013
NOTICIAMENTOS
-Compadre, alguma novidade?
O que foi que aconteceu
E com quem ocorreu
A notícia explica
Onde e o porque
Só não justifica
Por que isto e aquilo
São notícias planetárias
Que eu e você
E o mundo inteiro
Temos que saber.
-Comadre, torça a roupa do
sabão
Que já está chovendo no
Japão!
18/09/2013
A regra é clara
Nunca se sabe
Quando vai bater na trave
E nem depois
Se vai entrar ou sair
O certo é uma regra breve:
Quem não tentar
Nunca que vai conseguir
Encestar!
28/09/2013
CARA A CARA COMIGO
Tentei ser “O Cara”
Sem esse cara ser eu
Acabei quebrando a cara:
Pois o cara que fui não sou
E o cara que sou não fiz fluir
E agora com que cara vou seguir?
01/10/2013
O VENTAR DO VENTO
O vento venta
Quando venta o vento
É que o vento venta
Por que venta o vento
Além disto o vento venta
Só quando venta o vento
Logo o vento que venta o
vento
É o vento que o vento venta
E o vento venta só por
ventar.
07/10/2013
ALCAGÜETE DA MORTE DO TREMA
A Reticência é um cão
perdigueiro por ungüento
Que tranqüilo segue o rastro
pelo chão da linha
Atrás da seqüência da frase
com ambigüidade...
Já o Trema, desmilingüido
com um ponto a menos
Sequer se agüentava em pé
como o Dois Pontos:
Que feito um pingüim fica na
espera do que vem.
O Trema era um delinqüente
gato no telhado do U
Pra onde seqüestrava
lingüiças e carnes sangüíneas
E com freqüência era visto
como um antiqüíssimo
Acento sem eloqüência,
exeqüível de se argüir o fim
Para que apazigüemos um
escrever eqüidistante
No bilingüismo da
lingüística luso-brasileira e tupiniquim...
Vou cagüetar: o Trema morreu
a pauladas na praça
Dentro do saco de gatos da
reforma das lingüetas
Cujos povos agüentaram, sem
conseqüências nem graça
Mas com seqüelas, pois foi
uma iniqüidade:
Como um sagüi extinto, o
Trema vai deixar saudades!
14/10/2013
MEDÍOCRE COM VERNIZ
Em qualquer atividade
Tem os que não dão pra coisa
E que fazem feio no meio
Tem os que são esforçados
E que não fazem tão feio
Mas que nunca acertam em
cheio
E tem os que são abrilhantados
Os que sem esforço têm
recheio
E que fazem o bonito
canonizado.
Eu, em tudo na vida o que
fiz
Estive no grupo dos
esforçados
Dos enganadores com verniz.
04/11/2013
COM QUE CARA
Vá que me peguem
Metendo a mão
Na cumbuca alheia
Que coisa mais feia!
Com que cara
Que eu fico?
Vá que publiquem
E julguem, e condenem
A minha mão leve
Por pegar o que não deve
Com que cara
Que eu fico?
Vá lá que à tentação
E ao contágio da corrupção
Eu não seja blindado
Nem santo, nem vacinado
Mas com que cara
Que eu fico?... 23/11/2013
ESPERANDO A VEZ
Do que mais sinto falta
Enquanto espero a minha vez?
Primeiro, de dirigir um
automóvel
E dominar os espaços das
cidades próximas
Depois, de andar caminhando
pelas ruas
E de pegar ônibus nas
paradas lotadas
No ir e vir do trabalho de
cada dia
E de ficar atrás do meu
balcão de comerciante
Preenchendo os dias como
palavras cruzadas
Por último, a falta que mais
sento doer
É a de morar e tomar banho
sozinho
E de circular pela casa sem
me perder.
24/11/2013
ARRASTÃO CARIOCA NOS
PORTUGAS
Napoleão deveria ser um
herói brasileiro
Por fazer o rei Dom João VI
de Portugal
Fugir assustado com o seu
reino inteiro
Com remos, velas e frotas
atravessar o mar
Rumo ao Novo Mundo no Rio de
Janeiro
Onde veio se perder a coroa
da regência
Num arrastão carioca pela
independência.
29/11/2013
DEBAIXO DA SAIA DA MAMÃE
Quando a gente quer voltar
A se ver protegido do mal
Debaixo da saia da mamãe
Enquanto ainda se tem mãe
Que ainda usa saia maternal
É tarde, descobrimos
Que estamos crescidos
E não cabemos mais foragidos
Debaixo da saia da mamãe.
10/12/2013
AMOR BANDIDO
Esta linda menina
Não é flor que se cheire
Ela é cocaína
Amor bandido
Paixão que alucina
Chave da cadeia
Abismo e ruína
Esta linda menina
É a minha sina.
15/12/2013
OS PAIS E O PAÍS
Antigamente o regime era
assim
Antes e durante a ditadura
militar:
Apanhávamos dos pais por se
fazer “arte”
E se apanhava ainda mais
para não chorar
Depois apanhávamos do país
por se protestar
E se apanhava até a morte
para não sonhar...
Hoje tudo mudou, o regime é
outro
Desde que não se faça “arte”
nem protestos
E nem se queira sonhar com
utopias
Para os pais e o país...
25/12/2013
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